QUALIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA - O Ponto de Partida Para Uma Estratégia de Crescimento Nacional
- maria helena Cruz
- May 27, 2019
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A realidade do ensino básico no Brasil é frustrante tanto para os alunos, como para os pais e até para os educadores. A baixa qualidade da educação básica apenas evidencia o retrato do descaso com a base do ensino-aprendizagem. Gestores, educadores, poder público e muitas vezes a própria família não dá o devido valor a aspectos essenciais no início da vida escolar de suas crianças. E apesar dessas frustrações terem maior incidência na rede pública, também estão presentes em muitas instituições privadas. Esquecem ou se quer têm a ciência de que a educação básica é que vai conceber e solidificar os pilares do aprendizado.
Uma atenção especial deve ser dada ao ensino fundamental I. As experiências e rotinas em relação a aprendizagem vivenciadas e assimiladas nessa fase podem se tornar hábitos de estudo e isso tanto pode ser positivo quanto negativo ao desenvolvimento escolar, favorecendo ou comprometendo também a vida acadêmica e profissional no futuro desse aluno.
Apesar de o cérebro humano continuar em formação até o final da adolescência, é nos primeiros anos de vida, ou seja, até por volta dos oito anos, que ele concebe o seu molde básico. É nessa fase que, segundo J. Fraser Mustard (2010), "Os anos iniciais do desenvolvimento humano estabelecem a arquitetura básica e a função do cérebro." Em outras palavras, são as vivências nesse início da vida que moldarão as funções cerebrais, daí a necessidade de uma preparação, uma programação para o desempenho cognitivo satisfatório do aluno ainda nessa fase inicial do aprendizado.
A fase da alfabetização, a qual geralmente acontece a partir dos seis anos, é um terreno fértil para que a criança aprenda a prender de forma prazerosa. O aprendizado precisa levar em conta a necessidade que a criança tem de explorar o mundo com seus sentidos: audição,visão, tato, e claro paladar. O aprendizado deve passar pelos sentidos, para que possa ser internalizado e assimilado, tornando-se parte do aprendiz, para que ele possa posteriormente externalizá-lo como forma de expressão, seja por meio da fala, da arte, da conscientização sobre o mundo que o cerca e principalmente na resolução de problemas.
Ainda que grande parte da comunidade ligada ao contexto escolar, saiba das necessidades inerentes ao aprendizado, a educação básica brasileira continua sendo frustrante.
As causas são diversas. Começando pela apatia dos responsáveis e familiares em exigir e verificar resultados reais e concretos, contentando-se em ter um lugar onde deixar seus filhos enquanto trabalham ou em simplesmente orgulhando-se quando suas crianças são aprovadas ao fim do ano letivo, passando pela falta de motivação do aluno em empenhar-se no seu aprendizado, melhorando seus resultados, explorando de fato o seu real potencial, perpassando pelo despreparo, falta de estimulo e a ausência de esforço do docente em traçar uma abordagem significativa que impulsione o aluno a construir seu aprendizado, bem como a falta de uma gestão escolar comprometida e qualificada para atuar junto ao corpo docente, junto aos alunos e junto às famílias Vamos conversar um pouco sobre cada ponto.

RELAÇÃO FAMÍLIA / EDUCAÇÃO
A família tem, indiscutivelmente, um papel fundamental quanto à educação de suas crianças, afinal, o educar para o convívio social é de responsabilidade, primariamente da família, ficando à cargo das instituições de ensino o reforço do que foi aprendido em casa. Quando essa aprendizagem familiar não acontece, as consequências para o desenvolvimento social e até mesmo para os resultados escolares são dramáticos e difíceis de serem sanados. Da mesma forma temos as escolas com o papel de apresentar e promover ações para o desenvolvimento cognitivo da criança e os saberes escolares. nesse caso o papel reforçador deve ser apresentado pela família, no acompanhamento das atividades realizadas por suas crianças, comparecimento à reuniões escolares e presença ativa nas necessidades contextuais apresentadas pela comunidade escolar. O envolvimento adequado da família na educação de suas crianças faz toda a diferença no futuro social e profissional deste indivíduo na vida adulta.
MOTIVAÇÃO DO ALUNO
Não é possível ensinar um aluno o qual não está disposto a aprender. A aprendizagem só acontece ao perpassar pelos sentidos e se ligar à experiências existentes no repertório do aluno. Se a conexão criada for relativa a algo ruim, o conteúdo apresentado simplesmente será rejeitado, não adicionando nada ao conhecimento desse aluno ou, na melhor das hipóteses, dada a pressão para que aquele conhecimento seja apreendido, o aluno irá decorar o conteúdo em períodos próximos a provas e testes, mas o deletará da memória em seguida, sem que haja uma aprendizagem real. Para que o aluno aprenda de fato, é necessário ligar as novas informações à experiências e conhecimentos prévios que sejam do interesse dele, para que haja a motivação em assimilar os novos conteúdos corroborando para um aprendizado real e significativo, o qual será levado para a vida.
PROFISSIONAL DOCENTE - MOTIVAÇÃO E CAPACITAÇÃO
Da mesma forma que o aluno não aprende de maneira adequado quando desmotivado, é improvável que o professor possa ensinar de maneira assertiva se não estiver entusiasmado e preparado para aplicar o conteúdo. A docência exige dos que a elegem para a sua vivência profissional, enormes doses de determinação e empenho na busca por melhores ferramentas e conhecimentos mais aprofundados para que seu exercício seja, de fato, producente. Ou seja, para que o trabalho docente alcance seus objetivos de mediar e direcionar o ensino de maneira eficiente para os fins sociais a que se prestam é necessário que tanto a gestão quanto o próprio educador tenha consciência da necessidade da formação continuada do professor. O estado de espírito desse educador, ou seja, seu bem estar também é fator crucial para o seu bom desempenho. Um ambiente acolhedor, equipe engajada, condições financeiras adequadas são questões que influenciam no resultado final do trabalho docente. O educador deve estar atento aos sinais que lhe causam desconforto em seu ambiente de trabalho e manter um diálogo aberto com a coordenação para saná-los o quanto antes e assim garantir seu bom desempenho e a aprendizagem adequada de seus alunos.

GESTÃO EFICIENTE
No contexto escolar, o papel de mediador entre todas as frentes necessárias a um bom ambiente e consequentemente a bons resultados no contexto educacional da instituição onde atua é do gestor, incluindo-se aqui a coordenação pedagógica, tanto geral quanto setorial, e direção. São os gestores os responsáveis por implementar estratégias eficientes para o bom andamento da instituição em todos os âmbitos. Seja da utilização dos recursos financeiros, materiais e humanos até, e principalmente, das estratégias de ensino a serem aplicadas para a realização dos objetivos educacionais apropriados aos objetivos daquela instituição. Para que se alcance o objetivo desejado é preciso ouvir a comunidade escolar desde os início do planejamento, para que a estratégia traçada seja condizente com as necessidades de todos os envolvidos no contexto educacional. Os gestores devem estar abertos ao diálogo, porém também precisam estar cientes de suas responsabilidades. É função do gestor diagnosticar os problemas apresentados anteriormente e intervir de maneira adequada a contribuir para o devido tratamento necessário à cada situação. O gestor precisa estar disposto a acolher aquele que lhe solicita apoio e lhe dar o tratamento que melhor atenderá à sua demanda, ou seja, deve ouvir ativamente as questões e propor soluções cabíveis e que se prestarão para efetivar uma melhoria pedagógica real e assertiva. Lembremos também que é de responsabilidade do gestor, em especial da coordenação pedagógica, traçar estratégias de formação continuada para sua equipe docente.
É preciso que toda a sociedade se comprometa em tornar a educação básica de qualidade em uma realidade, pois só assim conseguiremos alcançar os patamares sócio-econômicos tão necessários ao desenvolvimento do país. Sem o comprometimento de todos em buscar uma direção que nos leve a resultados reais, quaisquer esforço para mudanças reais, serão meras especulações, com resultados fantasiosos de curto ciclo vital. Estratégias com soluções consistentes para reverter o quadro de declínio nos rankings de crescimento econômico e social em relação à grandes potências mundiais só serão alcançadas se estiverem baseadas na promoção de uma educação de qualidade para todos os níveis sociais.