top of page

UM POUCO DA HISTÓRIA E DO DEFINHAR DE UM POVO NA EXPANSÃO EUROPEIA EM TERRAS BRASILEIRAS

  • Writer: maria helena Cruz
    maria helena Cruz
  • Nov 16, 2018
  • 9 min read

RESUMO

Com Base nas obras, “O Trato dos Viventes – Formação do Brasil no Atlântico Sul” de Luiz Felipe de Alencastro, “Os Índios e o Brasil – Passado, presente e futuro” de Mércio Pereira Gomes, e “A África e os Africanos na Formação do Mundo Atlântico” de Jhon Kelly Thornton, o presente artigo pretende fornecer uma visão, ainda que limitada, sobre os impactos na vida dos nativos das terras do Brasil, no encontro com o velho mundo tornando-se parte do grande empreendimento expansionista. Passando pelo primeiro momento de vislumbre da terá pelos europeus que descrevem o paraíso, comparado com o sentimento de paraíso dos nativos. Outros aspectos a serem abordados serão as guerras indígenas e a violência advinda dos europeus, em especial os Portugueses em suas buscas por escravos e território, bem como as doenças e aculturação que quase dizimaram a população nativa, concluindo então com a visão etnocêntrica europeia como causa de tamanha barbárie contra os povos nativos do Brasil.


Palavras-chave: Índio. Brasil Colônia. Escravos.


 

[Imagem:Slaved.guarani.debret.jpg|thumb|180px]



A visão expansionista europeia fez com que países como Portugal, Holanda, entre outros se lançassem em longas jornadas marítimas, inicialmente com ideais românticos como a busca por uma rota que os levassem a Companhia das Índias Orientais fizeram com que o novo mundo fosse descoberto. As Américas com suas terras abundantes e fartas de riquezas naturais, incluindo as terras brasileiras.

Em tais terras, os conquistadores não encontraram apenas as belezas vegetais e de seus animais silvestres jamais vistos pelo velho mundo, mas também avistaram os gentios do lugar. Um povo despido de todos os costumes advindos do velho mundo. Estes sequer usavam roupas para esconder-lhes as vergonhas e tinham costumes grotescos, embora desprovidos dos ideais de maldade concebidos pelos europeus. Logo, sem as convencionalidades tidas como civilizadas, foram taxados de bárbaros e assim deu-se início ao definhar de um povo durante o movimento de expansão europeia.


 

LIVRES CATIVOS


Devido aos audaciosos planos do infante D. Henrique de expandir os domínios da Coroa de Portugal e circunavegar a África em busca de uma rota marítima para as Índias (THORNTON, 1949), as terras do Brasil foram tomadas de assalto pelos europeus, principalmente eles, os Portugueses, na busca por riquezas minerais e produtos comercializáveis, e qual não foi o êxtase destes ao vislumbrarem o paraíso tropical de tais terras.


A natureza farta e seu povo desprovido de pudores típicos das sociedades modernas, com seus costumes animalescos, porém repletos de significâncias capazes de serem gestadas apenas pela mente humana. As necessidades dos nativos eram supridas pela abundância de recursos naturais. Havia fartura de frutos, raízes, pesca e caça encantaram os olhos “modernos” do homem branco.


As interações sociais dos nativos, intrigava por suas características de igualdade e generosidade (GOMES, 2012, p 72). Tudo lhes era compartilhado entre todos de acordo com as necessidades e até mesmo a violência não se constituía por motivos de maldade crua e simples. Havia simbologia em cada ação que se desenrolava, tanto que tal brutalidade foi retratada como que “ingênua, como de crianças” (GOMES, 2012, p 45).


Porém o paraíso dos chamados índios, segundo o olhar europeu, trazia um significado diferente. A conquista expansionista, levada como objetivo dos desbravadores, não dava lugar ao respeito para com aqueles povos e sua cultura. Sua visão de paraíso não estava na tranquilidade oferecida pela terra, que lhes abastecia de todo o necessário para uma boa vida, mas no lucro que tanta fartura poderia oferecer. O mundo novo era uma porta aberta para novas riquezas para a coroa e para os desbravadores da terra tida como bárbara.


Os nativos, no entanto, apresentavam outra visão inicial sobre esse encontro de mundos. Segundo Gomes (2012) com a chegada dos colonizadores o mundo dos nativos não pôde ficar imune as mudanças, mas ainda assim, para a concepção dos povos da terra, o paraíso se mantinha, afinal, como poderia perder-se daquilo que fora construído por tantas gerações e praticadas por tantos? O paraíso não era apenas as terras, agora invadidas pelos homens brancos, com seus costumes tão peculiares aos costumes e vivências dos nativos, mas tratava-se de algo que lhes era intrínseco. Seu paraíso, sua cultura, sua vida não lhes podia ser arrancada de suas entranhas. Das entranhas de não um, mas vários povos que viviam nessas terras e que cultivavam variadas práticas que apesar de certas características específicas de cada povo, “se assemelhava entre alguns milhões de pessoas” (GOMES, 2012, p 47).


O simbolismo interiorizado e materializado pelos nativos em suas práticas e tradições mantinha seu paraíso a salvo das investidas e diferenciados modos dos homens brancos que surgia em maior número à cada navio aportado. A convivência com tão diferentes personagens não lhes tirou a base constantemente mutável em que se pautava sua política social, o qual jamais pôde ser compreendido pelos europeus (GOMES,2012).


Os nativos da terra eram numerosos, quando da chegada dos europeus. Entre eles haviam diversas nomenclaturas, mas basicamente podia-se identificar dois grandes grupos que seriam os tupis (subdivididos em diversas outras nações, as quais algumas também se subdividiam, como os tupinambás) e os tapuias (ou os povos não tupis).


Ainda segundo Gomes (2012), por habitarem principalmente a área litorânea do território brasileiro, os tupis foram os primeiros a terem contato com os europeus que aqui chegaram. Entre esses povos, o de maior número era o povo tupinambá e suas subdivisões que se expandia pelas regiões. Esse grande crescimento demográfico e geográfico aconteceu graças a sua despreocupação, dado que havia estabilidade para sua subsistência, bem como não havia grandes ameaças a segurança do povo, pois não haviam inimigos que se revelassem realmente perigosos ou ameaçadores aos olhos dos tupinambás. Não havia necessidade de gasto de tempo e energia para se especializar, nem para sua subsistência e nem para a guerra, sendo assim, estavam livres para embarcarem em andanças na busca pela terra sagrada e assim cresciam em número e em territórios ocupados.


Por serem tão numerosos, não achavam necessário organizarem-se socialmente de forma complexa, assim, quase não havia hierarquia nas aldeias, salvo em caso de necessidades específicas, como por exemplo em tempos de guerra. Nesse caso os índios obedeciam a um chefe, o morubixaba ou tuixaua, mas em tempos de paz a tribo seguia um líder sábio e religioso. Ele era responsável por aconselhar, curar utilizando-se de rituais e ervas medicinais e manter a tradição com as histórias antigas do povo e também as festas. São os chamados pajés-guaçu ou caraíbas (GOMES,2012).


Em meio a uma população tão grande, a guerra estava quase sempre presente e nesse aspecto os tupinambás não perdoavam se quer parentes e aliados, as chamadas guerras intestinas eram constantes, bem como grandes batalhas contra outras tribos da etnia, tapuyas e homens brancos.


Era durante essas guerras que certos prisioneiros eram levados para sacrifício. Para os rituais de antropofagia. Lembremos que a carne humana não era uma iguaria sempre presente no cardápio indígena, mas fazia parte de uma cerimônia, onde o prisioneiro havia sido considerado valoroso e assim, após o tempo de preparação em que o prisioneiro era tratado como convidado da tribo, recebendo presentes e até esposa, o mesmo era devorado em ritual para que sua habilidade, coragem e valor fosse absorvida pelos que o ingeriam. Para muitas tribos, ter um membro levado para sacrifício era uma grande honra. Assim o era também para o prisioneiro que consentia o ato e sem tentativa de fuga ou qualquer forma de refutação ao seu destino, aceitava-o com orgulho.


Os nativos eram livres e esse conceito também servia, de certa forma, aos seus prisioneiros com ressalvas, claro. É também graças à essa liberdade que se dava o fato de não haver hierarquia significativa tornava inviável a extração de escravos em suas comunidades como acontecia na África, onde já a cultura escravista de forma distinta a que fora adotada pelos europeus, já estava difundida entre os povos da terra. Os nativos do brasil não se constituíam em uma comunidade escravista, sendo poucos os prisioneiros capturados em batalha e ainda para estes, como dito anteriormente, lhes era destinado um tratamento especial, mais ainda, eram contra à troca de escravos em massa (ALENCASTRO, 2000).


Ainda assim, como retratado por Alencastro (2000) em “O Trato dos Viventes – Formação do Brasil Atlântico Sul”, “leis sucessivamente editadas permitiram três modos de apropriação de indígenas: os resgates, os cativeiros e os descimentos” (ALENCASTRO, 2000, p 119) Mas as leis pouco importavam e mesmo com maiores restrições e o trato com os jesuítas, o trabalho forçado era amplamente infligido aos nativos. Desconhecimento das leis ou mesmo dissimulação tornava as práticas comuns em terras brasileiras, especialmente em São Paulo onde a mão de obra escrava de nativos era a maior, senão a única força de trabalho utilizada.


 

MORTE E ACULTURAÇÃO


A busca por escravos da terra, quase sempre era feita de forma violenta tendo dizimado povos inteiros, sendo que os poucos sobreviventes eram levados cativos.



Após os Portugueses, movidos pelos ideais da expansão europeia, controlarem o litoral, dizimando, escravizando ou tendo como aliados os nativos que lá existiam, os europeus encontram índios mais hostis que levam terror ao colonato. Os colonos, então, decidem que a única solução é trazer nativos aliados, aumentando o sistema de aldeamentos. Tal solução também foi utilizada contra outros inimigos como o exemplo dos holandeses, porém tornou-se mais uma forma de extermínio do povo nativo, pois nesse ambiente se juntavam várias etnias, bem como se ampliava o contato com africanos e portugueses, disseminando epidemias, pelas quais houve grande mortandade indígena dadas as suas condições genéticas. Ao contrário dos povos europeus e africanos, os ameríndios estiveram isolados do resto do mundo, mantendo uma raça pura. Alencastro (2000, p 127) diz que “(...) os índios da América - tal como os aborígenes australianos – não têm sangue tipo B. Ademais os indígenas da área sul-americana, tampouco possuem sangue tipo A”, sendo assim mais suscetíveis à “(...)invasão de células patogênicas” (ALENCASTRO, 2000, p 127).


A mortandade, tanto na forma cruel de violência física, quanto microbiana, não foram as únicas causadoras da drástica diminuição dos povos nativos brasileiros, mas também, tão culpada quanto, foi a aculturação desses povos, ou seja, o desaparecimento de sua cultura, de seus costumes.


Com a interação entre os nativos e europeus, muitos se envolvem com as índias, dando origem aos mamelucos. Estes, segundo Gomes (2012), apesar de serem rejeitados por seus genitores paternos, se envergonhavam de sua descendência indígena, se afastando de sua cultura, de seus costumes, na busca de se assemelhar ao povo do qual também descendiam, mas que os renegavam. Essa negação também foi grande causa do desaparecimento de povos de origem ameríndia que, apesar de seu fenótipo, não admite sua ascendência nativa.


Grande parte desses povos, incluindo muitos nativos, misturaram-se aos seus conquistadores, trazendo para si o fenômeno da aculturação. Deixando suas heranças étnicas se perderem no tempo. Embebidos de suas ideologias etnocêntricas, os europeus desconsideravam os povos tidos como bárbaros, nesse caso os nativos brasileiros e esta, a negação da cultura instituída já a varias gerações, tratou-se também de uma violência desmedida a qual destruiu boa parte desse povo e sua visão de mundo, com suas significâncias peculiares.



A expansão europeia, na busca pelo progresso e riquezas, mudou a realidade dos povos por onde passou e em especial com os nativos ameríndios. O genocídio causado pela chegada dos homens brancos foi de tal brutalidade que chega a estarrecer os próprios algozes, como na fala de Gomes (2012, p 57-58) ao trazer o relato, onde Maciel Parente em confissão pede perdão ao Padre Antônio Vieira em seu leito de morte e este acusa e denuncia os portugueses de terem matado dois milhões de índios em quatrocentas aldeias em São Luiz de Belém, entre os anos de 1616 e 1656. O autor diz ainda que esses números são exagerados, mas não diminuem a barbárie sofrida pelos que eles chamavam de bárbaros.


As doenças, os ataques violentos e a aculturação reduziram o número de nativos e em vários casos extinguiu culturas únicas, que desapareceram sem deixar vestígios de sua passagem pela terra. Línguas, costumes, vidas perdidas de forma brutal, chegando ao cúmulo de os poucos sobreviventes sentirem-se envergonhadas de suas origens ao ponto de negá-las.


A violência trazida do velho mundo não apenas destruiu corpos, não apenas violentou a carne, mas aferiu-lhes as almas, destruiu – lhes o seu ser. Eram descritos como demônios em uma carta enviada da Bahia (ALENCASTRO, 2012), mas qual a razão para assim serem denominados, pois se tudo o que faziam era proteger suas terras, sua gente? A razão era a de estarem sendo condenados apenas por não serem de tez alva ou trajarem os finos tecidos comercializados na Europa. A razão é de terem se deparado com o velho mundo. Um mundo onde o diferente é tido como ruim e para se tornar bom, tem que se moldar à imagem e semelhança daqueles que se consideram melhores. Daqueles que se vêm como a imagem do próprio Deus.

 

REFERÊNCIAS

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O Trato dos Viventes – Formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo. Ed. Companhia Das Letras. 2000.

GOMES, Mércio Pereira. Os Índios e o Brasil - Passado, presente e futuro. São Paulo. Ed. Contexto. 2012.

THORNTON, Jhon Kelly. A África e os Africanos na Formação do Mundo Atlântico: Tradução de Marisa Rocha Mota. Rio de Janeiro, Ed. Elsevier.20014.

 

CITAÇÃO

CRUZ, Maria Helena. Um Pouco da História e do Definhar de Um Povo Na Expansão Europeia em Terras Brasileiras. Disponível em: http://mariahelenacruz17.wixsite.com/portfolio/single-post/2018/11/16/UM-POUCO-DA-HIST%C3%93RIA-E-DO-DEFINHAR-DE-UM-POVO-NA-EXPANS%C3%83O-EUROPEIA-EM-TERRAS-BRASILEIRAS. Acesso em___/___/______.

Featured Posts
Recent Posts
Archive
Search By Tags
Follow Us
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square

"Sonhar é o que torna possível realizar."

@2014 ContosFadas Design / Maria Helena Cruz

bottom of page